Ontem eu vi um cara


Ontem eu vi um cara.
Não era belo, não era feio, era apenas um cara.
Seu rosto era composto de uma barba rala, mal feita; uma ou duas noites mal dormidas que causaram um roxo profundo de olheiras mas, o que realmente me chamou atenção naquele cara era a ausência da própria sombra ao passar pela luz.
Era noite, um poste após outro ele ia passando, e a sombra ligada a seus pés não se formava, não andava junto.
Seu olhar era marcante. Um olhar distante, longo, perdido.
Esse homem andou até a mais alta ponte seca da cidade.
Subiu no parapeito e olhou para baixo.
Seu cabelo desgrenhado voava ao vento enquanto ele analisava a queda.
Então o homem, que já tinha decidido o que estava para fazer, colocou os pés mais para frente, alinhados com o final da ponte.
E com aqueles olhos azuis e a face cansada ele me viu.
E com o susto que teve, se desequilibrou e seu corpo foi jogado pra trás, fazendo-o cair com as costas no asfalto.
Foi então que uma luz muito forte o iluminou.
Uma luz forte, que mesmo parecendo poder cegá-lo, ainda assim não produziu sombra alguma.

Então minha missão foi cumprida. Seu crânio foi achatado pelas rodas do caminhão.

Prazer, eu sou a morte!

E quando até mesmo a sombra é capaz de te abandonar, é sinal de que eu estou espreitando... E de uma maneira ou de outra, eu vou te levar...

Sangue por Todos os Lados


Sangue... sangue por todos os lados.

Sangue nas paredes, na cortina, na capa do sofá. Capa que me custou exatos 72 reais na feira de móveis usados. O tom vermelho contrastou de uma forma intrigante com o azul da capa do sofá. Capa esta que me custou 72... ou seriam 73 reais?

Droga. Odeio me esquecer das coisas. Onde eu estava mesmo? Ah sim... Sangue... sangue por todos os lados.

Vejo muito sangue mas não vejo nenhum corpo. Não vejo um corte ou um ferimento. Não vejo vítimas, assassinos, ladrões nem nada parecido. Se houvesse um ladrão ele teria levado meu abajur. Lindo abajur com as faces formando uma espécie de guarda-chuvas de cristal, com pêndulos cristalinos na ponta. Quanto eu paguei por ele mesmo? Droga. Odeio me esquecer das coisas.

Nossa, olha o carpete. Carpete lindo de manta com três cores diferentes formando uma espiral no centro. Cheio de sangue, droga, olha quanto sangue. De onde será que vem?

Peraí. O que é aquilo atrás do sofá azul cheio de manchas de sangue? Que desperdício de dinheiro... sangue mancha sabia?

Está reluzindo, brilhando, ofuscando minha visão...

É uma faca. Rá! Acho que finalmente achei a arma do crime. Será que houve algum crime?

Ei! Um corpo caído. Nossa esse rosto parece familiar. Onde será que eu vi ele antes?

Deixa eu tentar me lembrar... Abajur cristalino, 72 ou 73 reais, faca... JÁ SEI. Esse é o meu rosto.

Sou eu que estou deitado com o abdômen aberto e as tripas no chão... Como eu não me lembrei disso antes?!

Droga. Odeio esquecer das coisas.

A Porta dos Sonhos


- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH - gritou Pedro ao acordar de seu pesadelo.
Os braços tremiam e o suor escorria de sua face, gotejando no lençol branco e já umedecido.

Assim que retomou sua consciência e percebeu que já estava novamente no mundo físico, Pedro fechou os olhos e recostou sua cabeça no travesseiro para tentar se lembrar em detalhes do que havia acontecido, pois assim que levantasse, a bolha que cobre as lembranças iria se romper e com ela tudo o que havia de mais belo em seu pesadelo iria se desfazer. E isso seria trágico para um devaneio muito bem tramado por sua mente que, com certeza, em algumas horas iria se tornar um conto nas páginas de seu blog na internet.

Pedro sempre achou estranho na maneira como os seus sonhos insistiam em serem tão cheios de detalhes. Tanto que não era nem um pouco difícil transcrevê-los no seu computador.

Porém as coisas estavam mudando aos poucos a cada dia. Essas imagens que formavam suas histórias apenas em sonhos, começavam a se apresentar defronte aos olhos quando Pedro estava desperto também. Quando se concentrava, seja para resolver algum problema no trabalho ou em algum momento de meditação rápida, sempre conseguia imaginar uma porta ao seu lado esquerdo... "a porta dos sonhos", como gostava de pensar.

A fechadura que essa porta continha era pequena o suficiente pra não deixar Pedro olhar o que havia do outro lado, além de ser uma pequena brecha que reduzia sua visão à apenas um pequeno detalhe da cena.

Caso esse detalhe chamasse sua atenção, Pedro sentaria em sua cadeira, abriria seu Bloco de Notas e começaria a descrever o que viu. Nesse momento, seu mundo seria desligado e apenas a porta estaria à sua frente.

Quanto mais palavras apareciam na tela, mais Pedro se aproximava da porta e quanto mais Pedro se aproximava da porta, mais partes da cena poderiam ser vistas. Assim, vez por outra sua mente estava sendo entregue à porta dos sonhos de maneira desperta. O que ele não sabia, era que o mundo estava prestes a passar por uma mudança...

E essa mudança iria custar a vida de milhões de pessoas caso Pedro não achasse a chave certa que abre a sua porta dos sonhos...

Devaneio dispersado


- CRAAAW, CRAAW - fez o corvo voando pela janela, acordando-o de suas divagações.
Ele odiava quando seus pensamentos eram interrompidos de forma brusca, mas ultimamente isto se tornara uma rotina.
Não tinha ideia do motivo pelo qual os pássaros estavam tão agitados pelas redondezas, mas não perdia muito do seu precioso tempo tentando descobrir.

Quando voltou a focar os pensamentos nos códigos que estava digitando para tentar fazer um software qualquer voltar à funcionar, se deu conta de que sua bexiga estava a ponto de explodir.

Afastou sua cadeira alguns centímetros, bloqueou o computador para ter certeza de que ninguém iria futricar nas suas coisas - não que existam coisas muito secretas aqui nessa máquina - pensara, mas odiava imaginar seus colegas mexendo em um ícone que fosse da área de trabalho.

Abriu a porta e caminhou até o banheiro, que ficava na porta ao lado. Ao abrir o banheiro, sentiu um cheiro nojento vindo de dentro. - Malditos cagões - pensou.

Ao tentar abrir a porta de um dos dois box, constatou que a mesma estava fechada. - Custa perderem a mania de trancar a porta antes de sair do banheiro? - Esses pequenos incômodos eram o que transformavam um dia ótimo de trabalho em um dia repleto de rancor.

Após fazer suas necessidades notou que, ao se dirigir à porta do banheiro pisou em uma poça. Qual não foi sua surpresa quando percebeu o vermelho vivo que aquele líquido reluzia.

Assustado, saiu correndo tropeçando nos próprios pés quase batendo de cabeça na parede em frente. Por sorte um funcionário da manutenção do prédio estava passando e, ao perceber o que tinha causado aquele susto, rapidamente entrou no banheiro para destrancar a porta, pois a poça vinha de lá.

Ao abrir a porta, nenhum dos dois consegui segurar o almoço dentro do próprio estômago.

Sentado ao vaso jazia um corpo sem cabeça. Mesma cabeça essa que estava faltando no alto do corpo, encontrava-se embaixo da tampa, teimando em trancar o fluxo da água e transbordar um rio de sangue e água encanada...

Livro Review - Fios de Prata [Reconstruindo Sandman]



“Tu inspiraste Rowling, e foi nas terras de Morpheus que se moldou Hogwarts. Tu inspiraste Tolkien, e foi nas terras de Phantasos que se anexaram as extensões de Terra-Média. Tu inspiraste Lovecraft e em minhas terras se fixou Miskatonic. Então eu te pergunto com sinceridade, anjo: até onde vai tua vontade de ser coadjuvante em um mundo de formas e pensamentos?”

Bom. Eu acabei neste momento de ler o livro Fios de Prata, do Raphael Draccon e simplesmente não tenho ideia de por onde começar essa resenha/review.

Este livro traz como enredo o mito de Sandman (Criado por Neil Gaiman), ou, Morpheus, um Deus-Menor Grego, governante do Sonhar.

A criação de Gaiman é tão influente na literatura que em algumas vezes chega até a ser confundido com o próprio deus mitológico e, como cita o Raphael, isso é um dos estopins que dá origem aos conflitos no Sonhar na história do livro, em meio a acontecimentos que entrelaçam ficção e fatos reais e alteram a realidade humana.

Como de praxe, vou tentar não fazer spoilers pois, sabe como é né... Spoiler é mal, não faça spoiler, spoiler nao presta :P, porém, citando a trama, Mikael Santiago, conhecido como Allejo é nosso personagem principal. Um homem disposto à descer até os círculos do Inferno em busca do amor de sua vida.

Através disso se desenha uma guerra de proporções capazes de colocar em risco sete bilhões de sonhadores na face da terra e além.

Em um primeiro momento (fugindo um pouco da história do livro), eu comecei a lê-lo pois sei da qualidade do autor e com certeza iria viajar à terras distantes, e passar momentos incríveis com o pensamento longe do corpo percorrendo as páginas do livro.

Porém ao começar a lê-lo (pouco eu sabia do mito do Sandman), eu comecei a me identificar de uma outra maneira com o livro. A trama se passa no Sonhar, e a frase destacada no livro nos leva a perceber que o Anjo dos Sonhos é o responsável por influenciar as grandes obras da literatura, os grandes artistas que já passaram pela orbe terreste. E isto me chamou atenção justamente porque 90% dos contos encontrados aqui no blog foram sonhos que tive e, quando acordei, transcrevi-os para o computador, transformando-os em histórias.

Então comecei a ler sem expectativas, apenas aguardando o que estaria por vir. Mas o que aconteceu foi  algo quase surreal.

Logo nas primeiras páginas, minha atenção se prendeu ao livro de uma maneira que dificilmente eu consiga lembrar alguma outra vez que tenha acontecido.

Em um dado momento, eu estava correndo os olhos nas frases quando o personagem principal estava correndo perigo, e logo depois consegui me sentir no meio de uma pista de dança apreciando uma dança sensual que me fez delirar.

Esta atenção conseguiu ficar aprisionada no livro até... pasmem... o último virar de folhas.

Meus pensamentos, por vários momentos, se uniram aos sonhos e pensamentos bons de mais de sete bilhões de sonhadores em busca de um ideal.

As páginas finais do livro são um caso a parte. Ao contrário do que acontece com boa parte dos livros que li ultimamente, o desfecho, ao invés de decepcionar ou dar uma decaída, é praticamente duas vezes melhor que o decorrer do texto. O final é impressionante e surpreendente, fazendo com que o leitor se mantenha no livro até [conseguir] fechá-lo. Estas páginas exalam amor, bondade e esperança. É possível sentir seu próprio coração pulsando na garganta, transformando aquelas palavras em esperança; em fé. Em amor.


Ao contrário da trilogia Dragões de Éter, em que um público, na minha opinião, mais jovem é atingido, este livro desde as primeiras páginas nos faz entender que desta vez, a fantasia busca atingir um público mais maduro, busca tocar fundo no coração das pessoas para que elas possam parar e refletir sobre o que está acontecendo ao redor delas.


Me desculpo pela minha limitação terrena em não conseguir pensar em palavras capazes de descrever as emoções que passaram por mim ao ler este livro, do princípio ao fim. A única coisa que posso fazer é recomendar fortemente que todos leiam-no, pois a mensagem contida em suas páginas, transcendem o limite da fantasia e tocam fundo na alma.

E o adendo à leitura do livro, fica minha jornada Épica pela Bienal no Domingo, passando a cada 20 minutos na Leya, perguntando pras atendentes se o Raphael estava no estande para que eu pudesse autografar o livro... Até que quase 19 horas da noite CONSEGUI finalmente meu autógrafo \o/.

Nota: 10



De Raphael Draccon...

Fios de Prata
           Reconstruindo Sandman

Contos & Sons - Resultado Final


Peraí... Deixa eu ver se entendi. Tem postagem nova no Depósito de Contos? =O Não acredito, me belisquem que com certeza é um sonho... AI... não tão forte...

Bom pessoal. Depois de muito postergar, decidi anunciar o resultado da promoção feita ano passado, Contos & Sons. 

Milhares de pessoas (rsrs) vem me cobrando isso ao longo do tempo, e como desde ano passado não escrevo mais nada (sim, podem me chingar), não tinha mais postado nem músicas nem contos nem NADA...

Mas como eu não podia deixar mais um projeto engavetado, estou aqui anunciando o Resultado Final da promoção Contos & Sons.